A inesperada saída de Bashar al-Assad da Síria, confirmada pela Rússia neste domingo (8), marca o desmoronamento de um regime que dominou o país por mais de cinco décadas. A ofensiva liderada pelo grupo rebelde Hayat Tahrir al-Sham (HTS) resultou na captura de Damasco e em uma reviravolta política histórica. Assad teria deixado instruções para uma “transição pacífica de poder”, mas o futuro da nação permanece incerto.
O início do colapso
A ofensiva rebelde, iniciada há pouco mais de uma semana, avançou rapidamente sobre cidades estratégicas como Aleppo e Homs, culminando na tomada da capital síria, Damasco. Relatos indicam que o governo sírio, enfraquecido e isolado, foi incapaz de oferecer resistência significativa. Assad teria deixado a capital na madrugada de sábado (7), em um avião cuja localização permanece desconhecida.
A captura de Damasco desencadeou celebrações em massa. Milhares de cidadãos foram às ruas gritando “Liberdade” e saqueando propriedades ligadas ao regime. Vídeos mostram rebeldes e civis levando móveis e itens de luxo de residências oficiais do ditador, em um símbolo de ruptura com décadas de autoritarismo.
Os rebeldes no poder
O grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS), que liderou a ofensiva, tenta se distanciar de suas raízes extremistas ligadas à al-Qaeda, adotando um discurso de pluralismo e reconciliação. Em um pronunciamento transmitido pela TV estatal, o líder do grupo, Abu Mohammed al-Golani, declarou: “Estamos entrando em uma nova era para a Síria. O futuro é nosso.” Apesar disso, especialistas questionam a capacidade do HTS de implementar um governo estável e inclusivo, dada sua origem como grupo jihadista.
Repercussões internacionais
A saída de Assad provocou reações mistas no cenário internacional:
•Estados Unidos: O presidente Joe Biden afirmou que está “monitorando de perto os eventos na Síria”. O presidente eleito Donald Trump declarou que os EUA devem evitar envolvimento militar no país.
•França: O governo francês comemorou o fim do regime Assad, destacando os anos de repressão e violência. O presidente Emmanuel Macron reafirmou o compromisso da França com a estabilidade no Oriente Médio.
•Israel: As Forças de Defesa de Israel reforçaram a segurança nas Colinas de Golã e alertaram que não tolerarão ameaças em sua fronteira.
•Irã: A embaixada iraniana em Damasco foi invadida, e o governo de Teerã criticou a escalada de violência no país.
•Brasil: O Itamaraty recomendou que cidadãos brasileiros deixem a Síria e expressou preocupação com a escalada do conflito.
A ditadura de Assad
Bashar al-Assad governou a Síria com mão de ferro por 24 anos, mas sua ascensão foi marcada por circunstâncias inesperadas. Formado em oftalmologia, ele assumiu o poder após a morte de seu irmão mais velho, Basil, em 1994, e a morte de seu pai, Hafez al-Assad, em 2000. O regime foi inicialmente visto como uma possível abertura para reformas, mas rapidamente recorreu à repressão.
A guerra civil, iniciada em 2011, destruiu o país e consolidou a imagem de Assad como um dos líderes mais autoritários do mundo. Mesmo com o apoio da Rússia e do Irã, o regime perdeu força ao longo dos anos, culminando em sua retirada diante da ofensiva rebelde.
O futuro da Síria
O cenário pós-Assad é incerto. Embora os rebeldes do HTS prometam uma transição democrática, sua legitimidade internacional ainda é contestada. Além disso, a fragmentação política, as tensões étnicas e a destruição deixada por anos de guerra representam desafios enormes para qualquer tentativa de reconstrução.
A saída de Assad, no entanto, é um marco que encerra uma era de autocracia e levanta a possibilidade de uma nova página na história da Síria. Se essa página será escrita com paz e democracia ou com novos conflitos, dependerá das ações nos próximos dias e da capacidade de a comunidade internacional mediar um processo de reconstrução.