Prezado Prefeito Ricardo Nunes,

Endereço esta carta ao senhor não apenas como cidadão e jornalista, mas como alguém que reconhece e respeita sua trajetória pública. Não escrevo a um político qualquer, mas a um estadista, um gestor que tem demonstrado compromisso com a cidade de São Paulo, com sua gente e com os valores que sustentam nossa democracia.

São Paulo, sob sua liderança, tem sido uma cidade que cresce, que se moderniza e que se mantém economicamente estável em tempos desafiadores. Seu nome está associado à responsabilidade fiscal, à busca por eficiência na gestão pública e à defesa da ordem. E é justamente por reconhecer seu compromisso com esses princípios que temos certeza de que o senhor tomará a posição correta diante de um tema que vai além de governos, partidos ou disputas eleitorais: a defesa incondicional da liberdade de imprensa.

O episódio envolvendo o jornalista Thiago Herdy, do UOL, não é um ataque isolado a um profissional da comunicação. É um alerta perigoso para a sociedade. É um aviso de que forças obscuras estão dispostas a cruzar uma linha que não pode ser cruzada, uma linha que separa a democracia do autoritarismo. Um jornalista foi seguido, teve seus dados fiscais expostos, sua rotina pessoal detalhada e sua família envolvida em um ataque vil e covarde. Isso não é apenas inadmissível; é um sinal de que há quem tente transformar São Paulo em um ambiente hostil à verdade.

E aqui faço uma distinção essencial: o senhor nunca foi um político que se esquivou da transparência. O senhor, Ricardo Nunes, sempre esteve do lado da responsabilidade, sempre compreendeu que um governo sólido é aquele que se sustenta na confiança e na legitimidade. É por isso que não temos dúvidas de que sua resposta a este episódio será firme, clara e à altura do líder que São Paulo conhece.

O que está em jogo não é uma disputa entre um veículo de comunicação e a prefeitura. O que está em jogo é o direito da população de ser informada. Quando um jornalista é intimidado, quando se busca transformar a investigação em um risco pessoal, quando se tenta calar a imprensa pelo medo, quem perde não é apenas aquele repórter, mas cada cidadão que depende do jornalismo para entender o que acontece nos bastidores do poder.

O senhor governa a cidade mais importante do Brasil. Seu nome está associado à governabilidade e à estabilidade. Por isso, cabe a sua gestão garantir que São Paulo não seja lembrada como um lugar onde jornalistas são perseguidos por fazer seu trabalho.

Os fatos são claros:
• Um jornalista investigou contratos públicos que levantaram dúvidas legítimas.
• Empresas ligadas a uma mesma família faturaram quase R$ 750 milhões sem licitação.
• O chefe de gabinete da Secretaria de Infraestrutura Urbana e Obras (Siurb) e sua família moraram em imóveis de uma dessas empresas.
• O próprio prefeito foi mencionado em reportagens que buscavam esclarecer o envolvimento de aliados políticos nesses contratos.
• Logo após a publicação dessas matérias, um site apócrifo divulgou informações privadas do jornalista, deixando claro que ele foi seguido e exposto de maneira criminosa.

Diante desses acontecimentos, a questão central não é política, mas moral. Nenhum governo sério pode se permitir ser associado a práticas que remetem a perseguições políticas de regimes autoritários. Nenhum gestor público pode permitir que sua administração seja manchada pela suspeita de conivência com ataques à imprensa.

E o senhor, Ricardo Nunes, sabe disso. O senhor compreende o que está em jogo.

Há momentos na vida pública em que um governante precisa tomar decisões que definirão seu legado. Este é um desses momentos.

A resposta da Prefeitura de São Paulo a esse caso precisa ser exemplar. A sociedade espera que o senhor tome uma posição firme, porque sabemos que o senhor é um líder comprometido com os valores democráticos. Sabemos que o senhor não permitirá que São Paulo se torne um ambiente onde jornalistas precisem olhar por cima do ombro antes de exercerem seu ofício.

E quais são as ações concretas que esperamos?
1. Uma declaração pública condenando, de forma inequívoca, qualquer tentativa de intimidação à imprensa.
2. A garantia de que sua administração não compactua com perseguições e que tomará todas as providências necessárias para que esse episódio seja investigado com seriedade.
3. Um compromisso claro de que a transparência continuará sendo um valor inegociável na Prefeitura de São Paulo.

Este é um chamado à responsabilidade que o senhor sempre demonstrou ter. O senhor nunca precisou se esconder, nunca fugiu do debate, nunca temeu a verdade. Por isso, temos certeza de que o senhor tomará as medidas corretas, como sempre fez.

A imprensa livre não é um favor que os governantes concedem. Ela é um direito fundamental da sociedade. O jornalismo sério não é inimigo do poder público, mas sim seu maior aliado. Porque um governo transparente, que permite a fiscalização e o debate, é um governo forte.

A história nos ensina que os regimes que tentaram calar a imprensa foram aqueles que não suportavam a verdade. O senhor sabe disso. O senhor sabe que a credibilidade de um líder não se constrói pelo silenciamento, mas pela capacidade de enfrentar os fatos com coragem e determinação.

Por isso, acreditamos que sua posição será a de um verdadeiro estadista. O senhor tem nas mãos a oportunidade de demonstrar que São Paulo continuará sendo uma cidade onde a democracia respira livremente.

Ricardo Nunes, seu nome está sendo escrito na história de São Paulo. E as próximas linhas desse capítulo serão decididas pela forma como sua administração responderá a este desafio.

No futuro, quando olharmos para trás, o que veremos?
• Um prefeito que silenciou diante de uma tentativa de intimidação?
• Ou um líder que se colocou frontalmente contra qualquer ameaça à liberdade de imprensa?

A resposta está em suas mãos. Mas, conhecendo sua trajetória, conhecendo sua seriedade e seu compromisso com São Paulo, temos absoluta certeza de que o senhor estará do lado certo. Como sempre esteve.

Os adversários da verdade tentam agir nas sombras. O senhor, Ricardo, sempre foi alguém que governou sob a luz da transparência.

Que sua resposta seja forte. Que sua resposta seja firme. Que sua resposta seja a resposta de um estadista.

São Paulo precisa de sua liderança. O Brasil precisa do seu exemplo.

E nós sabemos que o senhor não nos decepcionará.

Fabrício Correia é escritor, jornalista, historiador e professor universitário. Presidiu a Academia Joseense de Letras e integra a União Brasileira de Escritores – UBE. É CEO da Kocmoc New Future, responsável pela agência de notícias, “Conversa de Bastidores”.