Por trás do discurso de disciplina partidária, o PSDB de São José dos Campos escancara uma disputa silenciosa entre a cúpula tucana e um de seus quadros mais pragmáticos. O vereador Sidney Campos, que está em seu primeiro mandato, virou alvo de processo disciplinar por, segundo a direção local, contrariar diretrizes do partido e votar sistematicamente com a base do governo municipal.

Na prática, o que está em jogo não é apenas a fidelidade estatutária, mas a autonomia parlamentar e os bastidores da fusão entre PSDB e Podemos, prevista para os próximos meses. Sidney admitiu, em fevereiro, que apoia o prefeito Anderson Farias (PSD) com o objetivo de garantir que suas demandas sejam atendidas — uma postura comum nos arranjos políticos municipais, mas agora tratada como infração grave.

A Comissão Executiva tucana acusa o vereador de boicotar requerimentos sobre temas como saúde, educação e transporte, e de se ausentar de reuniões internas. O procedimento disciplinar, que será conduzido pela Comissão de Ética, pode culminar na expulsão do parlamentar. Segundo o presidente do diretório local, José Mello, há provas suficientes para sustentar uma medida extrema, embora o direito à defesa esteja garantido.

O processo ocorre em clima de urgência: se a expulsão não for oficializada antes da fusão partidária, Sidney poderá deixar o PSDB sem o risco de perder o mandato. A sigla, por sua vez, não descarta acionar a Justiça para reivindicar o cargo por infidelidade partidária.

Procurado, o vereador não comentou o caso. Mas nos bastidores, a leitura é de que ele está sendo punido não por desrespeitar o partido, mas por se alinhar com um governo bem avaliado e que pode, em 2026, atrair até parte do eleitorado tucano.

O episódio revela os dilemas éticos e eleitorais de um partido que, em meio a reestruturações, ainda busca reencontrar seu protagonismo sem perder controle sobre seus quadros.