Foto: Instagram – Dalai Lama

Dalai Lama contraria China e impede Pequim de escolher seu sucessor

Em Dharamshala, no norte da Índia, o próprio Dalai Lama deixou claro, nesta quarta-feira (2), que, após sua partida, voltará a encarnar como chefe espiritual do budismo tibetano — e que o processo de identificação de sua reencarnação não será submetido às autoridades chinesas. A declaração, feita às vésperas do seu 90.º aniversário, põe fim a dúvidas suscitadas pelo próprio líder ao cogitar a possibilidade de ser o último Dalai Lama de uma linhagem de mais de sete séculos.

Falando durante a semana de comemorações em torno de sua data natalícia, o monge reforçou que apenas a Gaden Phodrang Trust, fundação por ele criada, terá voz decisiva na busca e no reconhecimento de sua nova manifestação terrena. Segundo explicou, o procedimento envolverá consultas aos principais mestres das tradições tibetanas e ficará isento de ingerências estatais.

Pequim, que considera o Dalai Lama um separatista por ter fugido para a Índia em 1959 após o levante tibetano, reafirmou hoje sua prerrogativa de aprovar qualquer reencarnação dentro do território chinês, por meio de um ritual oficial. Em resposta, o líder espiritual pediu a seus seguidores que rejeitem publicamente qualquer figura imposta por Pequim — e lembrou ter admitido, em ocasiões anteriores, a hipótese de não haver um sucessor.

Em vídeo exibido a um grupo de mais de cem monges, vestidos com seus mantos marrons, o Dalai Lama garantiu: “A instituição que carrega meu nome seguirá adiante”. O discurso foi saudado com entusiasmo pelos presentes e contou com a participação de apoiadores históricos, entre eles o ator Richard Gere, que acompanhou a cerimônia em uma sala decorada com pinturas de Buda e fotografias do próprio Dalai Lama.

Com isso, o líder reforça a autonomia de sua tradição religiosa diante de Pequim e dá início a um novo capítulo na relação milenar entre o budismo tibetano e o poder estatal chinês — anunciando, ao mesmo tempo, que seu próximo nascimento poderá ocorrer em qualquer lugar do mundo e sem restrição de gênero ou nacionalidade.

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