O Ministério das Relações Exteriores e a Secretaria de Relações Institucionais condenaram as declarações do vice-secretário do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Christopher Landau, que afirmou que um ministro do Supremo Tribunal Federal teria “usurpado poder ditatorial” e “ameaçado líderes de outros Poderes”.

O Itamaraty considerou a manifestação um “novo ataque frontal à soberania brasileira e à democracia que recentemente derrotou uma tentativa de golpe de Estado”. A chancelaria destacou que esta foi a segunda manifestação hostil do governo norte-americano em três dias e reiterou que o Brasil continuará reagindo sempre que for alvo de “ingerências” e “falsidades”.

A ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, reagiu de forma contundente. Ela classificou a postagem como “arrogante” e uma “gravíssima ofensa” ao país, ao STF e à verdade. “Quem tentou usurpar o poder em nosso país foi Jair Bolsonaro. Quem está tentando destruir a relação histórica entre os dois países é a família Bolsonaro, estimulando Donald Trump, com o tarifaço e sua chantagem contra o Judiciário brasileiro”, declarou.

Gleisi afirmou que a Constituição está sendo cumprida e que Executivo, Legislativo e Judiciário seguem unidos para rechaçar a tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023. “Nenhum poder constitucional brasileiro encontra-se impotente. Ao contrário: os três Poderes reagiram ao golpe, à chantagem de Trump, ao motim bolsonarista pela anistia e às sanções violentas contra o ministro Alexandre de Moraes e outros ministros do STF”, disse.

A ministra encerrou com um recado direto a Washington: “Se querem mesmo restaurar uma amizade histórica, comecem por respeitar a soberania do Brasil, nossas leis e nossa Justiça — e parem de apoiar o golpista que tentou destruir nossa democracia.”

As declarações de Landau, originalmente em inglês e reproduzidas pela Embaixada dos EUA no Brasil, alegam que um magistrado do STF acumulou autoridade excessiva e “destruiu a relação histórica de proximidade entre Brasil e Estados Unidos”. O vice-secretário é o segundo na hierarquia do Departamento de Estado, chefiado por Marco Rubio.

Na sexta-feira (8), o Itamaraty convocou o encarregado de negócios da embaixada norte-americana, Gabriel Escobar, para expressar indignação com o tom e o conteúdo das recentes postagens do governo dos EUA e da própria embaixada, que também traduziu e divulgou declarações ameaçando autoridades do Judiciário brasileiro.

A tensão diplomática ocorre em meio à imposição de sanções contra o ministro Alexandre de Moraes, com base na Lei Magnitsky, e à adoção de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, medidas justificadas pelo governo Donald Trump com base em decisões do STF relacionadas a processos contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e à moderação de conteúdo em redes sociais e plataformas digitais.