Jacareí vive um tempo raro em sua história política: no comando da Prefeitura, Celso Florêncio; no plenário da Câmara, Gabriel Belém. Dois jovens, dois caminhos distintos, dois sonhos que poderiam dialogar em favor de uma cidade que tanto precisa de fôlego novo. O que deveria ser encontro de forças, porém, vem se desenhando como embate e é justamente nesse ponto que mora a reflexão mais urgente.

Gabriel Belém está vereador, é alguém que nasceu fora dos conchavos, que fez da superação pessoal o seu passaporte para o futuro que almeja construir. Para estudar Direito na Universidade de São Paulo, vendia geladinhos e custeava do próprio bolso o transporte até a capital. A travessia dura moldou nele um traço de resiliência que hoje se vê refletido no mandato. Desde janeiro, em sua primeira experiência legislativa, tem cobrado transparência, exigido relatórios, feito as perguntas que tantos preferem evitar. Sua postura, que pode soar incômoda aos que se acostumaram ao silêncio, é justamente o que engrandece a política.

De outro lado, Celso Florêncio representa o jovem que chegou ao topo do Executivo com a promessa de modernizar a cidade. Viu na política uma ferramenta de transformação e foi capaz de mobilizar apoios para alcançar o posto mais alto. Gabriel Belém foi, inclusive, seu estagiário na Prefeitura e a ironia do destino agora os coloca como protagonistas, um diante do outro, em papéis de responsabilidade. Essa simetria não deveria ser motivo de atrito, mas convite à cooperação.

A denúncia, que o jovem edil gastou recursos públicos em um evento partidário, que hoje pesa sobre Belém ainda está em análise e não pode, sob hipótese alguma, ser transformada em sentença apressada. O respeito ao devido processo legal não é formalidade: é fundamento da democracia. Antecipar condenações é apequenar o debate público e negar à cidade a chance de ver florescer uma nova liderança.

O que se espera de Jacareí não é a repetição do pântano, onde cada broto novo é sufocado antes de crescer. O que se espera é que a juventude no poder compreenda sua missão histórica: mostrar que a política pode ser espaço de construção, jamais de destruição. Que um prefeito jovem enxergue no vereador igualmente jovem não um inimigo, mas um aliado no propósito maior de servir à população.

Torço pelos dois. Torço porque amo esta cidade e acredito que Jacareí merece ver sua juventude transformar-se em motor de mudança, não em pretexto para disputas mesquinhas. Gabriel Belém merece respeito. Celso Florêncio merece reconhecimento. E Jacareí merece que ambos entendam que só haverá grandeza quando caminharem, mesmo em lados distintos, na mesma direção: a de uma cidade mais justa, mais transparente e mais viva.

Fabrício Correia é escritor, jornalista e professor universitário. É CEO da Kocmoc New Future, responsável pela agência de notícias “Conversa de Bastidores”.