Foto: Reprodução

Aqui Vale: desserviço da instabilidade fabricada

Credibilidade é o o capital mais valioso do bom jornalismo, mas quando um veículo escolhe o atalho da polêmica, esquecendo o dever de apuração e o compromisso com a verdade, o que se produz não é informação; é instabilidade. A publicação recente do portal “Aqui Vale” sobre o secretário de Proteção ao Cidadão de São José dos Campos, Rafael Silva, é um exemplo claro desse desserviço.

A matéria, baseada em uma denúncia frágil e num episódio trivial de redes sociais, tenta transformar uma interação online em caso de relevância pública. A pergunta que fica é: a quem interessa um escândalo fabricado em torno de um tema sem impacto administrativo, sem dano ao erário e sem qualquer relação com as funções do cargo? O que se vê é o uso da imprensa como ferramenta de exposição pessoal e desgaste político e isso nada tem a ver com o bom jornalismo.

O “Aqui Vale”, que mantém relações umbilicais com um político em exercício de mandato,  deveria zelar por rigor e equilíbrio, ao invés disso tem optado pelo caminho da manchete acusatória, do espetáculo de redes, da tentativa de criar atrito em uma área essencial da Prefeitura; a segurança pública. O problema é que, quando se brinca com a credibilidade das instituições, o prejuízo não é de uma pessoa, mas da cidade inteira.

O secretário Rafael Silva tem trajetória reconhecida na gestão pública e lidera uma pasta que exige serenidade e autoridade. É natural que o debate sobre futebol ou qualquer outro assunto pessoal não interfira na condução de suas funções; o que interfere, sim, é o uso indevido da imprensa para fabricar crises.

Transformar um comentário nas redes em “denúncia” é distorcer o papel do jornalismo e trair o princípio da responsabilidade social. O “Aqui Vale” sabe o peso de suas publicações, e justamente por isso deveria agir com mais zelo e menos vaidade. A imprensa regional tem um papel fundamental na construção da cidadania, mas quando se converte em instrumento de perseguição, torna-se o oposto do que se propõe: um agente de desinformação e conflito.

São José dos Campos precisa de estabilidade, diálogo e foco no que realmente importa: o trabalho público. O jornalismo precisa reencontrar a medida justa entre fiscalizar e difamar, entre questionar e acusar. Porque quando a imprensa esquece que sua força vem da verdade, ela se torna apenas mais um ruído e ruído, por definição, é o som do desequilíbrio.

 

Fabrício Correia é escritor, jornalista, historiador e professor universitário.

 

 

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