O coronel Michael Randrianirina foi oficialmente empossado como presidente de Madagascar nesta sexta-feira (17), em cerimônia realizada no Tribunal Constitucional de Antananarivo, com saudações entre trombetas, aplausos e espadas erguidas. Sua chegada ao poder ocorreu poucos dias depois de sua tropa assumir o controle da ilha, na esteira de manifestações juvenis que exigiam mudanças urgentes.

A saída do antecessor, Andry Rajoelina, foi precipitada por protestos intensos organizados por jovens da chamada Geração Z. Ele deixou Madagascar rumo ao exterior, enquanto deputados votaram por sua destituição por abandono do cargo. Mesmo assim, Rajoelina, ainda em exílio, rejeitou renunciar formalmente. 

Randrianirina, que comandava a unidade de elite militar CAPSAT e havia deixado de apoiar Rajoelina antes dos protestos, participou da cerimônia vestido com trajes civis. Durante o evento, ele se comprometeu a exercer o mandato “de forma plena, completa e justa”, prometendo restaurar a unidade nacional e garantir os direitos humanos. 

Ele declarou ainda que um comitê militar governará junto com um governo de transição civ i l por período de até dois anos, com o objetivo de organizar novas eleições e reformar instituições. 

A posse foi cercada de tensão política. A União Africana, por exemplo, suspendeu Madagascar da organização em resposta ao golpe, e organismos internacionais manifestaram preocupação com o rompimento da ordem constitucional. 

Em discurso emotivo, uma jovem de 18 anos disse que os protestos não terminam com a mudança de poder: “Ainda não”, afirmou, em referência aos objetivos ainda não alcançados pela mobilização social. 

Apesar da retórica de unidade e reconstrução, o novo governo enfrenta ceticismo interno e externo. Muitos questionam a legalidade da transição e alertam que mudanças estruturais urgentes são necessárias para responder à crise que motivou todo o movimento — cortes de energia, falta de água e insatisfação generalizada.