Foto: Reprodução

Rodrigo Paz é eleito presidente da Bolívia e encerra ciclo de 20 anos da esquerda no poder

O senador centrista Rodrigo Paz Pereira, do Partido Democrata Cristão (PDC), foi eleito neste domingo (19) novo presidente da Bolívia, com 54,5% dos votos, segundo dados oficiais parciais do Tribunal Supremo Eleitoral. A vitória sobre o ex-presidente Jorge “Tuto” Quiroga, que obteve 45,4%, encerra duas décadas consecutivas de governos de esquerda e marca uma guinada histórica na política do país andino.

A eleição, a primeira em segundo turno da história boliviana, simboliza o fim da hegemonia do Movimento ao Socialismo (MAS), legenda fundada por Evo Morales e que comandou o país desde 2006. Enfraquecido por crises econômicas e dividido entre o grupo do ex-presidente e o do atual mandatário, Luis Arce, o MAS ficou fora da disputa presidencial pela primeira vez em vinte anos.

Um novo centro político

Rodrigo Paz, de 48 anos, filho do ex-presidente Jaime Paz Zamora, construiu sua campanha sobre o discurso de “moderação e reconstrução”. Com um estilo pragmático, o novo presidente promete restaurar a estabilidade institucional e reerguer a economia nacional sem rupturas bruscas. Seu plano de governo — batizado de “capitalismo para todos” — propõe combinar incentivos ao setor privado com programas sociais voltados às camadas mais pobres.

Durante a campanha, o senador procurou distanciar-se do radicalismo e enfatizou o diálogo. “A Bolívia precisa de trabalho, de oportunidades e de justiça verdadeira. Ideologias não colocam comida na mesa”, afirmou em um dos últimos comícios, em Tarija, sua base política.

Entre as propostas centrais estão a modernização das Forças Armadas, a digitalização de serviços públicos e a profissionalização do sistema judicial para combater o crime organizado. Na economia, defende a formalização de parte do enorme mercado informal boliviano — que representa cerca de 85% do PIB — e a redução de gastos supérfluos do Estado.

Relações internacionais e pragmatismo diplomático

Embora discorde de algumas políticas do governo brasileiro, Paz já declarou intenção de manter laços estreitos com o Brasil, principal parceiro econômico do país, reforçando a integração no Mercosul e no Brics. Em tom conciliador, também defendeu uma relação “pragmática e não ideológica” com os Estados Unidos. “A Bolívia precisa estar aberta ao mundo. Ideologias não alimentam o povo”, disse o novo presidente.

O vice-presidente eleito, Edman Lara, afirmou que o novo governo pretende “agir com rapidez” para enfrentar a crise que atinge a Bolívia, marcada por inflação alta, falta de combustíveis e escassez de dólares. “Vamos a La Paz para definir soluções imediatas para a economia”, declarou após a confirmação da vitória.

Evo à margem e o fim de uma era

Fora da disputa e alvo de um mandado de prisão, Evo Morales — que comandou o país entre 2006 e 2019 — votou em Cochabamba e pediu aos apoiadores que anulassem o voto. “Nenhum dos dois representa o movimento popular nem o indígena”, declarou à imprensa. A ordem de prisão contra o ex-presidente decorre de uma acusação de tráfico de menor de idade, que ele nega.

O atual presidente, Luis Arce, rompeu com Evo e viu seu próprio partido ruir entre as divergências internas e a crise econômica. “O povo decidiu, e todos devemos aceitar o que as urnas ditarem”, afirmou Arce ao votar.

A derrocada do MAS reflete o colapso de um modelo que, no auge do ciclo do gás natural, fez a economia boliviana crescer mais de 5% ao ano, mas que hoje enfrenta a pior escassez de combustíveis em quatro décadas. Filas em postos, desabastecimento e inflação de 23% em doze meses tornaram-se a imagem cotidiana de um país exaurido.

Um país à espera de estabilidade

Rodrigo Paz assume a presidência com a missão de restaurar a confiança nas instituições e conduzir a Bolívia a uma nova etapa de reconstrução econômica. A vitória do candidato centrista não representa apenas uma mudança de governo, mas o início de um ciclo em que o pragmatismo pode substituir o confronto ideológico que marcou a política boliviana desde Evo Morales.

“A Bolívia não é socialista nem conservadora — é trabalhadora”, disse Paz em seu discurso de vitória. “Vamos governar para todos os bolivianos.”

 

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