O envio de um navio de guerra norte-americano a Trinidad e Tobago, neste fim de semana, aumentou a pressão sobre o governo de Nicolás Maduro e reacendeu o clima de instabilidade política e militar no Caribe. O destróier USS Gravely, equipado com lançadores de mísseis, ancorou próximo à capital Port of Spain para exercícios conjuntos com as Forças Armadas trinitárias, manobra que, embora classificada oficialmente como operação antidrogas, tem sido interpretada como um gesto de intimidação à Venezuela, situada a menos de dez quilômetros do arquipélago.
A chegada do navio coincide com uma série de ataques aéreos norte-americanos realizados desde o início de setembro em águas caribenhas. Segundo balanços internacionais, ao menos dez incursões foram registradas, com 43 mortos. O governo dos Estados Unidos sustenta que as ações têm como alvo embarcações controladas por narcotraficantes. Já Caracas denuncia uma ofensiva política disfarçada de combate ao crime.
Em pronunciamento televisionado, Nicolás Maduro afirmou que Washington está “fabricando uma guerra sem fim” para justificar uma tentativa de derrubá-lo e tomar o controle das reservas de petróleo venezuelanas. O presidente acusou ainda os EUA de utilizar países vizinhos — especialmente Trinidad e Tobago — como plataformas estratégicas de pressão militar e diplomática.
A primeira-ministra trinitária, Kamla Persad-Bissessar, tem reforçado o alinhamento com Washington desde que assumiu o cargo, em maio de 2025. Fervorosa apoiadora de Donald Trump, ela adotou um discurso cada vez mais hostil ao governo venezuelano, ampliando as restrições à entrada de imigrantes e culpando Caracas pelo aumento da criminalidade em seu país.
A nova aproximação entre Estados Unidos e Trinidad transforma o pequeno arquipélago de 1,4 milhão de habitantes em um ponto-chave do tabuleiro geopolítico caribenho. Além do destróier, o governo norte-americano confirmou o envio de um porta-aviões e de outros seis navios de guerra à região.
Embora o discurso oficial fale em “cooperação regional contra o narcotráfico”, diplomatas latino-americanos avaliam que a escalada de manobras militares ao redor da Venezuela poderá reacender antigas tensões hemisféricas. Para analistas, a presença de forças norte-americanas tão próximas ao território venezuelano sinaliza não apenas uma nova fase da pressão sobre Maduro, mas também o retorno de Trinidad e Tobago ao centro da disputa política e energética do Caribe.



