O que se viu na Câmara de São José dos Campos hoje, com a rejeição de duas denúncias contra o prefeito Anderson Farias, foi uma escolha corajosa pela sobriedade. Num tempo em que a política se confunde com espetáculo, o Legislativo agiu com o cuidado que a democracia exige: distinguir o que é fato público do que é vida privada.
Anderson não vive um bom momento pessoal. A cidade inteira sabe disso. Mas, até aqui, demonstrou a capacidade de não deixar que os problemas particulares contaminem o funcionamento da administração. A máquina pública segue operando, os projetos avançam e São José dos Campos mantém o equilíbrio que a tornou referência em gestão.
Governar é resistir à turbulência. E o prefeito tem feito isso, mesmo sob o desgaste natural de quem ocupa um cargo de exposição. O que a oposição tenta transformar em crise política é, na verdade, uma crise pessoal e essa diferença precisa ser respeitada. O interesse público deve sempre prevalecer sobre a curiosidade.
A Câmara entendeu que cassação não é remédio para boato. Rejeitou o papel de tribunal moral e reafirmou o que o bom senso ensina: denúncias sem base não podem guiar o destino de uma cidade. Fiscalizar é dever, mas usar a vida de alguém como arma política é erro.
São José dos Campos continua crescendo porque aprendeu a confiar em instituições que sabem separar emoção de responsabilidade. O governo tem acertos e falhas, como qualquer outro, mas mantém o essencial; a estabilidade. E, neste momento, estabilidade é o que mais interessa.
O julgamento do tempo costuma ser mais rigoroso do que o das manchetes. Quando o barulho passar, o que ficará é a constatação de que a cidade seguiu trabalhando. E isso, no fim, é o que realmente define o ofício público: cumprir o dever mesmo quando a vida aperta.
Fabrício Correia é escritor, jornalista e professor universitário.



