A Polícia Federal prendeu, em plena noite de ontem, no Aeroporto Internacional de Guarulhos, o banqueiro Daniel Vorcaro, controlador do Banco Master, num movimento que expôs a gravidade das irregularidades apuradas no sistema financeiro e adicionou tensão a uma semana já marcada por reviravoltas. A ação, batizada de “Compliance Zero”, é resultado de uma investigação aberta em 2024, a pedido do Ministério Público Federal, para apurar a fabricação de carteiras de crédito insubsistentes dentro de uma instituição financeira. Esses papéis, segundo a PF, foram posteriormente negociados com outro banco e, após fiscalização do Banco Central, substituídos por ativos que não passaram por avaliação técnica adequada. O caso envolve suspeitas de gestão fraudulenta, gestão temerária e organização criminosa.
A prisão de Vorcaro ocorreu em circunstâncias incomuns. Investigadores descobriram sua movimentação no aeroporto e decidiram antecipar o cumprimento do mandado, levando o banqueiro para a Superintendência da PF em São Paulo. A defesa reagiu imediatamente, negando que ele estivesse fugindo do país. Segundo os advogados, Vorcaro embarcaria rumo aos Emirados Árabes justamente para assinar o contrato de venda do Banco Master para um consórcio de investidores estrangeiros, operação anunciada na véspera e avaliada em um aporte inicial de R$ 3 bilhões. O negócio ainda dependia do aval do Banco Central e do Cade.
A apreensão da PF ocorreu no exato dia em que o Banco Central decretou a liquidação do conglomerado Master e colocou a instituição sob administração especial temporária por 120 dias, preservando apenas o Will Bank, considerado estratégico pelo interesse de investidores na aquisição do banco digital. Na manhã de hoje, um novo desdobramento: Augusto Ferreira Lima, que ocupou o cargo de CEO do Master até o início das negociações de venda, também foi preso.
O clima de instabilidade se espalhou. Em Brasília, o BRB — banco público que recentemente manifestara interesse na compra do Master, tentativa rejeitada pelo Banco Central em setembro — foi alvo de buscas, e seu presidente, Paulo Henrique Costa, acabou afastado. As autoridades seguem rastreando documentos, movimentações internas e possíveis conexões entre os investigados, num processo que promete novos capítulos.
A PF afirma que a investigação continua e que outros nomes podem surgir à medida que os agentes avançam sobre o material apreendido. Enquanto isso, o sistema financeiro aguarda esclarecimentos adicionais para dimensionar o impacto real das descobertas e o futuro do conglomerado que, até ontem, negociava sua venda a investidores estrangeiros.

