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Não chego sozinha. Chegamos todas. A eleição de Claudia Sheinbaum e seus significados para a política internacional.

A eleição de Claudia Sheinbaum como a primeira mulher presidente do México marca um ponto de inflexão histórico tanto na política interna mexicana quanto nas relações internacionais do país. A vitória de Sheinbaum é significativa não apenas pelo rompimento das barreiras de gênero, mas também pela promessa de uma nova era de liderança progressista e inclusiva.

Ao assumir o cargo em 1º de outubro de 2024, Sheinbaum trará uma vasta experiência como ex-prefeita da Cidade do México, onde implementou políticas inovadoras em sustentabilidade e justiça social. Sua eleição ocorre em um momento de grande tensão nas relações entre México e Estados Unidos, especialmente em relação à imigração e ao tráfico de drogas. Com uma fronteira de 3 mil quilômetros compartilhada, o controle do fluxo migratório é um tema central nas campanhas presidenciais americanas. Joe Biden e Donald Trump, os principais candidatos à presidência dos EUA, utilizam essa questão como um ponto crucial de suas estratégias eleitorais, cada um buscando controlar a narrativa e demonstrar eficácia na gestão da fronteira.

A imigração é um dos temas mais sensíveis nesta relação. A retórica agressiva de Trump associa o fluxo de migrantes ao crime e ao terrorismo, prometendo políticas severas para controlar a fronteira. Biden, embora mais equilibrado, enfrenta pressão para adotar medidas mais rígidas. A chegada de Sheinbaum à presidência pode influenciar diretamente essa dinâmica, especialmente se ela buscar uma abordagem mais humanitária e cooperativa para resolver a crise migratória. A presidente eleita pelo já expressou sua oposição a medidas extremas, como o fechamento da fronteira, propondo, em vez disso, soluções baseadas no respeito mútuo e na colaboração entre as nações.

O tráfico de drogas é outro ponto crítico. O fentanil, uma droga sintética responsável por uma crise de overdoses nos Estados Unidos, é um dos principais focos de preocupação. No México, o combate aos cartéis de drogas é uma questão de segurança nacional. Sheinbaum, com sua postura firme contra o crime organizado, promete intensificar os esforços de cooperação com os Estados Unidos para enfrentar essa ameaça. Este é um momento crucial para fortalecer as iniciativas conjuntas e abordar as raízes da violência e do tráfico de drogas que afetam ambos os países e traz graves consequências ao mundo inteiro.

No contexto latino-americano, a eleição de Sheinbaum também representa uma oportunidade significativa para o Brasil. As relações entre Brasil e México têm sido historicamente complexas, marcadas por períodos de cooperação e distanciamento. No entanto, a ascensão de Sheinbaum oferece uma oportunidade renovada para fortalecer os laços diplomáticos e comerciais entre as duas maiores economias da América Latina. O Brasil, sob a liderança de Luiz Inácio Lula da Silva, tem uma política externa ambiciosa que busca consolidar sua posição de liderança na região. A colaboração com Sheinbaum pode promover uma agenda comum de desenvolvimento sustentável e justiça social.

Durante o governo de Felipe Calderón no México, houve tentativas de reconfigurar a presença internacional do país e fortalecer alianças estratégicas, incluindo com o Brasil. Lula, a época presidente brasileiro, buscou consolidar acordos de cooperação em áreas como energia e comércio. Com a nova liderança de Sheinbaum, há uma oportunidade para revitalizar essas iniciativas e promover uma maior integração econômica e política na região.

Sheinbaum e Lula compartilham uma visão de uma América Latina mais unida e forte, capaz de enfrentar os desafios globais com uma voz coesa. A proximidade com Sheinbaum pode servir como um catalisador para uma nova era de cooperação regional, onde Brasil e México trabalhem juntos para promover a paz, a segurança e o desenvolvimento sustentável. Esta parceria pode também fortalecer a posição da América Latina no cenário global, promovendo uma agenda de inclusão, igualdade e respeito aos direitos humanos.

Como disse a presidente em seu discurso, ela não chega sozinha, chegam todas e o México não apenas marca um avanço significativo na igualdade de gênero, mas também redefine as relações internacionais na América Latina. Este momento histórico reflete a evolução contínua da política na América Latina, destacando a importância de lideranças femininas fortes e progressistas na construção de um futuro mais justo e inclusivo para todos.

Fabrício Correia é historiador, licenciado pela Universidade do Vale do Paraíba, com especialização em Acessibilidade, Diversidade e Inclusão pela Unise Educacional. Preside a Academia Joseense de Letras.

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