O episódio de hoje, no debate da TV Cultura, em que José Luiz Datena lançou uma cadeira contra Pablo Marçal após ser chamado de “estuprador” e “arregão”, expôs de forma explícita a deterioração do espaço público de debate no Brasil.
A cena, cópia mal-ajambrada de um espetáculo sensacionalista, evidencia o desgaste crescente da política, amplamente influenciado por figuras abomináveis como Marçal, cuja ascensão representa um populismo muito mais perigoso do que aparenta. O evento em si é emblemático do que Marçal traz para a política: desordem, provocações e uma retórica carregada de autoritarismo, que merece ser analisada sob um viés psicanalítico.
Marçal não é apenas mais um outsider no cenário político. Ele personifica uma ameaça psíquica e social que vai além do comum, refletindo o arquétipo freudiano do “pai severo”, que domina através do medo e da manipulação emocional. Ao analisar seu discurso e a repercussão entre seus seguidores, fica claro que ele se utiliza de mecanismos identificados na psicanálise, como o conceito lacaniano do “grande Outro”. Marçal se posiciona como a única fonte de verdade e redenção para uma massa vulnerável, usando uma retórica que combina religião com o coaching motivacional, alienando seus seguidores e criando uma dependência psicológica nociva.
A atitude de Datena, embora lamentável, foi desencadeada pela estratégia de Marçal, que tem se especializado em provocações e ataques pessoais. Esse comportamento remete ao “impulso destrutivo” freudiano, em que o sujeito busca desestabilizar a ordem em prol do caos. Marçal claramente visa isso, ao provocar reações primitivas e irracionais, como a observada no próprio ato de violência de Datena. Sua presença corrosiva no debate público se baseia em táticas que não apenas minam a lógica e o raciocínio, mas também criam um ambiente de constante tensão e instabilidade.
O maior perigo, porém, reside na capacidade de Marçal de mobilizar seguidores com um discurso messiânico, utilizando a religião como instrumento de controle emocional. Ele apela à fragilidade psíquica de muitos, oferecendo soluções simplistas para questões complexas e prometendo salvação pessoal e política. É essa alienação que transforma Marçal em um líder perigoso, pois seus seguidores se tornam dependentes de sua figura, abdicando de sua autonomia crítica e emocional em troca de uma falsa sensação de segurança.
Leão Serva, mediador do debate, precisou intervir rapidamente para conter a situação, evidenciando o quão fragilizado está o ambiente de debate político no Brasil. Figuras como Marçal desvirtuam discussões relevantes, transformando-as em arenas de conflito pessoal. A postura de Serva foi fundamental para evitar uma escalada de violência ainda maior, mas o episódio em si revela uma deterioração irrefreável nessa eleição em São Paulo.
Pablo Marçal representa uma clara ameaça a democracia, que pode gerar uma crise psíquica coletiva afetando profundamente a sociedade. Ao usar a religião e a manipulação emocional como ferramentas de poder, ele desafia a própria saúde da democracia. Sua retórica simplista e autoritária alimenta medos e incertezas, criando uma base de apoio alienada e disposta a seguir cegamente suas promessas ilusórias. Esse é o verdadeiro perigo: a corrosão do pensamento crítico, o enfraquecimento do debate público e a desvalorização da política enquanto espaço de construção coletiva.
O episódio no debate da TV Cultura é um alerta para todos aqueles que acreditam na democracia. Marçal simboliza uma crise de identidade e autonomia na sociedade brasileira. Para preservar a saúde democrática do Brasil, é crucial combater lideranças manipuladoras e promover o fortalecimento do pensamento crítico e da liberdade psíquica. O futuro democrático depende da capacidade de reconhecer e neutralizar essas ameaças, antes que se tornem irreversíveis.
Fabricio Correia é CEO da Kocmoc New Future, responsável pela agência de notícias “Conversa de Bastidores”. Escritor, historiador e professor universitário com especialização em Acessibilidade, Diversidade e Inclusão.