A escritora Ana Maria Gonçalves foi eleita nesta quinta-feira (10) para ocupar a cadeira nº 33 da Academia Brasileira de Letras, tornando-se a primeira mulher negra a integrar a instituição em seus 128 anos de existência. A eleição foi decidida por 30 votos, em pleito que escolheu a sucessora do filólogo Evanildo Bechara.
Mineira de Ibiá, Ana Maria tem 55 anos e é autora de “Um defeito de cor”, romance de fôlego que se tornou referência da literatura contemporânea brasileira. Publicado em 2006, o livro acompanha a trajetória de Kehinde — personagem inspirada em Luísa Mahin — da infância no Reino do Daomé ao Brasil escravocrata, em uma jornada de resistência, ancestralidade e liberdade. A obra multipremiada ganhou ainda mais projeção ao inspirar o enredo da Portela no Carnaval de 2024.
Além de escritora, Ana Maria é publicitária, roteirista, tradutora e dramaturga. Sua produção atravessa temas como racismo estrutural, identidade afro-brasileira e o apagamento histórico das vozes negras. Sua presença na ABL representa uma ruptura simbólica com a homogeneidade que marcou a formação da Casa de Machado de Assis — ele próprio, um dos poucos negros a integrá-la, e o único fundador afrodescendente.
A eleição também contou com a participação de nomes como Eliane Potiguara, Ruy da Penha Lobo, Célia Prado, Martinho Ramalho de Melo, entre outros. Eliane, escritora e ativista indígena, ficou em segundo lugar.
A recepção de Ana Maria entre os “imortais” foi calorosa. Lilia Moritz Schwarcz, eleita em 2023, celebrou: “É um momento histórico. Ana representa o pensamento negro feminino brasileiro com uma potência rara. É autora de um dos livros mais importantes dos últimos 25 anos.”
Gilberto Gil, que entrou na ABL em 2021, também se pronunciou: “A literatura de Ana Maria Gonçalves é pulsante, necessária. Sua presença aqui reafirma que esta casa quer dialogar com o Brasil real.”
Para o presidente da ABL, Merval Pereira, a eleição de Ana Maria sinaliza um compromisso com a pluralidade: “Ela é uma das maiores escritoras do nosso tempo. ‘Um defeito de cor’ foi eleito por críticos e leitores como o livro mais relevante da literatura brasileira recente.