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Brasil e China firmam acordo para estudar ferrovia que cruzará o continente até o Pacífico

Brasil e China deram um passo decisivo em direção à criação de uma nova rota de integração logística no continente sul-americano. Os dois países assinaram um memorando de entendimento que autoriza o início de estudos técnicos, econômicos e ambientais para a implantação de uma ferrovia que ligaria o Centro-Oeste brasileiro ao litoral do Peru, no Oceano Pacífico. A proposta, conhecida como Ferrovia Bioceânica, busca encurtar caminhos entre a produção nacional e o mercado asiático, e foi formalizada durante reunião da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban), realizada em Pequim.

O projeto prevê a construção de uma linha férrea com início em Lucas do Rio Verde, município mato-grossense de forte vocação agrícola. De lá, os trilhos seguiriam rumo ao oeste, atravessando os estados de Rondônia e Acre, até alcançar a fronteira com o Peru. No território peruano, o traçado cruzaria a Cordilheira dos Andes até chegar ao porto de Chancay, ponto estratégico no Pacífico administrado por uma empresa estatal chinesa. Embora o acordo não estipule prazos nem orçamento, a iniciativa é vista como um marco potencial na transformação da infraestrutura de exportação brasileira.

A ferrovia faria conexão com duas obras já em desenvolvimento no Brasil: a Fico (Ferrovia de Integração Centro-Oeste) e a Fiol (Ferrovia de Integração Oeste-Leste). Essas ligações fortaleceriam o eixo de escoamento entre o interior do país e os litorais, tanto atlântico quanto pacífico, criando um corredor interoceânico terrestre. Para o Brasil, a expectativa é que a nova rota reduza custos logísticos e agilize o transporte de commodities como soja, milho, carne e minérios. De acordo com projeções de mercado, o tempo de transporte para a Ásia pode cair em até duas semanas, o que aumentaria consideravelmente a competitividade do agronegócio e da mineração nacionais.

Especialistas veem o projeto como parte da Iniciativa Cinturão e Rota (BRI), estratégia geopolítica da China que utiliza investimentos em infraestrutura como instrumento de influência global. A ferrovia bioceânica se encaixaria nesse contexto como uma peça adicional do tabuleiro, garantindo à China acesso direto a recursos sul-americanos e novas alternativas logísticas frente às tensões comerciais com os Estados Unidos. O porto de Chancay, terminal de destino do projeto, é considerado um hub logístico de alta importância, com capacidade para receber grandes volumes de carga da América Latina.

Apesar dos benefícios econômicos esperados, o projeto enfrenta críticas de ambientalistas e organizações indígenas. O traçado definitivo ainda não está definido, mas versões anteriores incluíam trechos que atravessariam regiões sensíveis da Amazônia e áreas habitadas por comunidades tradicionais. Entidades de defesa do meio ambiente defendem que os estudos considerem os impactos sociais e ecológicos com máxima seriedade, com consulta prévia às populações afetadas e transparência na divulgação dos dados.

O governo brasileiro afirma que nenhuma decisão sobre execução, rota final ou financiamento será tomada sem a conclusão dos estudos. O projeto ainda está em fase preliminar, mas simboliza uma aproximação estratégica entre Brasil e China, com potencial para redefinir as rotas comerciais do continente.

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