Foto: TRE-AP

Bruno Chaves Pinto, suplente de Alcolumbre, é alvo da PF por contratos bilionários, fraudes e crimes ambientais no Amapá

No centro de uma operação federal que sacudiu o Amapá nesta semana, está um nome até então pouco conhecido fora dos bastidores de Brasília: Bruno Chaves Pinto, empresário, herdeiro de construtoras e suplente do senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). Ele é acusado de liderar um esquema de desvios de recursos públicos, fraudes em licitações e crimes ambientais, envolvendo contratos que ultrapassam R$ 1,4 bilhão com o poder público.

A investigação, batizada de Operação Route 156, apura o direcionamento criminoso de licitações e o uso de propostas fictícias para simular concorrência. O foco está em contratos de manutenção da rodovia BR-156, eixo fundamental de ligação entre o norte e o sul do estado, controlados pelo DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes).

A apuração da Polícia Federal e da CGU revelou que ao menos quatro certames eletrônicos foram fraudados com cláusulas restritivas e “empresas de fachada”, conforme consta no inquérito. A suspeita é de que o grupo tenha atuado como organização criminosa para garantir contratos bilionários a empresas ligadas ao próprio Bruno — entre elas, a LB Construções e a Construtora e Reflorestadora Rio Pedreira.

De herança milionária ao Senado

Sobrinho de dois empresários do setor da construção civil, Bruno Chaves Pinto herdou o controle das empreiteiras que hoje estão no centro do escândalo. Sua ascensão política veio com o apoio direto de Davi Alcolumbre, de quem se tornou segundo suplente na eleição de 2022. A aproximação se deu quando Bruno buscava acesso a financiamentos públicos — e conseguiu.

Segundo documentos oficiais, foi o próprio Alcolumbre quem articulou a liberação de R$ 9 milhões junto ao BNDES para a construção de uma ponte sobre o igarapé Meruoca, no município de Amapá. A obra foi anunciada em 2020 pelo governo estadual, mas ficou paralisada por anos. Procurado, o senador negou envolvimento direto na escolha das empresas, embora reconheça que atuou na intermediação política do financiamento, quando presidia o Senado.

Contratos bilionários, aditivos e obra inacabada

O histórico das empresas mostra um padrão de aditamentos sucessivos. Um único contrato de pavimentação iniciado em 2011, com valor inicial de R$ 378 milhões, já superou R$ 1 bilhão após 14 aditivos, de acordo com investigações do Ministério Público do Amapá. Parte dessas obras ficou paralisada por longos períodos, inclusive com cobranças do MP estadual após dois meses de canteiros abandonados.

Além desse contrato, a LB Construções venceu, só no fim de 2023 e início de 2024, novas licitações que somam R$ 354,5 milhões em recursos federais, divididos entre o DNIT e a Codevasf — esta última sob controle político de aliados do senador.

R$ 800 mil em espécie, crimes ambientais e fraudes fiscais

A situação se agravou em dezembro de 2022, quando a Polícia Federal apreendeu R$ 800 mil em dinheiro vivo na sede da Rio Pedreira. A origem do valor não foi explicada, e a PF apontou indícios de superfaturamento de R$ 6,1 milhões em contratos com o DNIT.

Paralelamente, Bruno Chaves Pinto foi condenado pelo Ibama em agosto de 2023 por desmatamento ilegal. A LB Construções foi responsabilizada por devastar 83 hectares de floresta sem autorização durante uma obra pública de recuperação da BR-156.

Outro ramo da investigação aponta que a Rio Pedreira teria fraudado certificações ambientais para “esquentar” madeira ilegal extraída no Amapá, transformando exploração clandestina em material “regularizado” para fornecimento às próprias obras públicas.

População isolada e promessas vazias

Enquanto isso, o município de Amapá, com 10 mil habitantes, segue à margem dos bilhões contratados. A cidade vive ciclos de isolamento sempre que a ponte de madeira sobre o igarapé Meruoca fica intransitável. Desde 2011 há promessas para a construção de uma ponte de concreto. O contrato existe. Os recursos foram liberados. Mas a ponte nunca foi concluída.

Linhas de ônibus deixam de circular, ambulâncias atrasam socorro, e moradores precisam arriscar a travessia por caminhos precários. A obra, segundo a PF, foi estratégica não para a população, mas para garantir a presença das empresas do grupo em contratos que alimentam uma rede de favorecimentos políticos e pessoais.

O silêncio dos envolvidos

Até a publicação desta reportagem, nenhum dos envolvidos se manifestou oficialmente. A Polícia Federal segue cumprindo mandados de busca e aprofundando a apuração, que agora também mira a responsabilidade de órgãos federais e agentes políticos na sustentação do esquema.

A teia é densa e o rombo, bilionário. Mas, no coração da história, permanece uma questão simples e brutal: como tantos recursos públicos podem ser liberados, sem que sequer uma ponte seja entregue?

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