Com a morte do Papa Francisco, o cardeal Kevin Farrell, de 77 anos, passa a ocupar uma das posições mais importantes dentro da estrutura da Igreja Católica: a de camerlengo. Nomeado para o posto pelo próprio pontífice em 2019, Farrell assume agora a função de administrar o Vaticano durante o período de Sé Vacante, até a escolha do novo papa pelo Colégio de Cardeais.

De origem irlandesa, Farrell tem uma trajetória marcada pela formação internacional e pela atuação em diferentes países. Cresceu falando gaélico, estudou teologia e filosofia em Salamanca, na Espanha, e em Roma, na Itália, onde foi ordenado padre em 1978. Mudou-se para os Estados Unidos nos anos 1980, sendo posteriormente nomeado bispo auxiliar de Washington por João Paulo II, e mais tarde bispo de Dallas, por Bento XVI. Atuou também no México, onde foi capelão universitário e conduziu seminários voltados à bioética e à ética social.

Em 2016, foi nomeado cardeal por Francisco, que o incluiu na alta cúpula da Cúria Romana. Três anos depois, o pontífice o designou camerlengo — título que ganha especial relevância com a morte do papa, já que permanece ativo durante o período de transição. Como camerlengo, Farrell tem a responsabilidade de administrar os bens temporais da Santa Sé, supervisionar finanças, autorizar decisões administrativas e garantir o funcionamento interno da Igreja.

Além disso, ele preside a Câmara Apostólica, espécie de conselho financeiro do Vaticano, e atua como uma espécie de tesoureiro-geral, recebendo relatórios patrimoniais e verificando orçamentos das administrações ligadas à Santa Sé. Farrell também integra o grupo de cardeais eleitores que participarão do conclave para eleger o novo papa.

No passado, cabia ao camerlengo confirmar a morte do papa de maneira simbólica, chamando-o pelo nome de batismo e tocando sua cabeça com um martelo de prata — rito que foi substituído por um gesto mais discreto: a colocação de um véu sobre o rosto do pontífice. Hoje, sua função é menos cerimonial e mais prática, sendo responsável por assegurar a estabilidade institucional durante o período de transição.

Farrell conta com o apoio de três cardeais-assistentes para exercer suas funções. Caso esteja impedido por qualquer razão, quem assume é o vice-camerlengo, atualmente o brasileiro Dom Ilson de Jesus Montanari, arcebispo natural de Sertãozinho (SP), membro da Cúria e titular da sede episcopal de Capocilla.

Figura respeitada nos bastidores do Vaticano, Farrell assume neste momento um papel estratégico. Com formação sólida, perfil técnico e experiência diplomática, ele será responsável por manter a ordem e a transparência da Santa Sé enquanto o mundo católico se prepara para eleger o novo sucessor de Pedro.