Carlos Lupi veio a público explicar a fraude bilionária no INSS como quem explica uma briga de bar:
“Teve muita safadeza, mas não fomos omissos.”
Olha, se safadeza fosse crime capital, o Lupi já tinha sido canonizado — padroeiro dos espertos. Porque ninguém descreve o absurdo com tanta naturalidade quanto ele.
Segundo o ministro, o esquema de R$ 6,3 bilhões só passou despercebido porque, bem, eles estavam muito ocupados não sendo omissos. Sim, é isso mesmo: a fraude foi apresentada a ele em reunião oficial, foi registrada em ata, foi cantada em verso e prosa — e o máximo que o ministério conseguiu fazer foi… demitir o sujeito errado dois anos depois.
Lupi é daquele tipo de gestor que vê fumaça, sente o cheiro de queimado, tropeça em três extintores e ainda diz: “Deixa que resolve sozinho.”
A lógica é simples:
– A fraude acontece.
– O dinheiro some.
– O tempo passa.
– A Polícia Federal bate na porta.
– E então, heroicamente, ele aparece dizendo que sempre esteve atento, mas discretamente.
Lupi é craque: passa dois anos olhando pro teto, depois demite um diretor qualquer e chama isso de “ação corretiva”. É como esquecer o filho no shopping e depois explicar para o Conselho Tutelar que, veja bem, “não foi omissão, foi uma experiência de autonomia.”
A devolução do dinheiro? Essa é uma ópera à parte: parte dos valores será devolvida. Parte. Algum dia. Se tudo correr bem. Se não chover. Se Marte se alinhar com Júpiter.
É um Brasil tão generoso que rouba aposentado e ainda acha normal abrir um protocolo para ver se devolve o dinheiro ou manda uma carta de desculpas. Enquanto isso, Lupi continua falando como quem está vendendo plano de saúde por telefone: “Vai dar tudo certo. Já estamos auditando. O processo é complexo. Confia.”
O fato é que Lupi não foi omisso, não. Ele estava lá, firme e forte, supervisionando a tragédia — com a competência de quem assiste um assalto e depois processa o ladrão por abuso de confiança.
Mas calma: no fim, está tudo sob controle. Sob controle da Polícia Federal.
E olha que sorte: o brasileiro ainda pode escolher entre rir, chorar ou cancelar o desconto sindical sem sair de casa. Só não pode, mesmo, é esperar que Carlos Lupi um dia devolva a decência junto com o troco.
Fabrício Correia: historiador por formação, cronista por indignação e apresentador de televisão por acidente. Sobrevive de palavras, ironia e algumas boas histórias mal contadas.