Daniel Noboa foi reeleito neste domingo (13) presidente do Equador, superando sua adversária Luisa González em uma votação marcada pela tensão e pela sombra constante da violência ligada ao narcotráfico. Com mais de 90% das urnas apuradas, Noboa mantinha uma vantagem de mais de um milhão de votos — cerca de 56% contra 44% da candidata da Revolução Cidadã.
A adversária, no entanto, se recusou a aceitar os resultados. Em pronunciamento aos apoiadores, Luisa González alegou inconsistências e prometeu exigir a recontagem dos votos. “Recuso-me a acreditar que o povo escolheu a mentira em vez da verdade, a violência em vez da paz”, afirmou, pedindo que as urnas fossem abertas.
Apesar da tensão pré-eleitoral, marcada por decretos de estado de exceção e denúncias de insegurança, a votação ocorreu sem incidentes graves, registrando quase 84% de participação popular, de acordo com o Conselho Nacional Eleitoral.
No primeiro turno, os dois candidatos haviam ficado praticamente empatados — González à frente por uma margem de 0,17%. As últimas pesquisas indicavam um cenário indefinido, com as duas candidaturas tecnicamente empatadas. A vitória de Noboa confirma sua capacidade de mobilização, especialmente entre os eleitores que associam sua imagem à força e ao combate direto ao crime organizado.
Durante a campanha, o atual presidente decretou estado de exceção em sete províncias e na capital, Quito, sob o argumento do agravamento da ameaça do narcotráfico. Sua adversária denunciou mudanças em sua equipe de segurança às vésperas da votação, chamando a medida de irresponsável.
Noboa, de 37 anos, empresário e herdeiro do setor bananeiro, tenta consolidar seu projeto político após ter vencido eleições antecipadas em 2023, convocadas após a dissolução do Congresso pelo então presidente Guillermo Lasso. Já González, de 47 anos, buscava se tornar a primeira mulher eleita presidenta do Equador. Advogada e ex-deputada, é ligada ao ex-presidente Rafael Correa, que permanece na Bélgica desde que foi condenado, à revelia, a oito anos de prisão por corrupção — acusações que ele nega.
A vitória de Noboa ocorre num cenário de insegurança generalizada. O Equador, dolarizado e situado entre Colômbia e Peru — os maiores produtores de cocaína do mundo — tornou-se rota e base para o tráfico internacional. Mais de 1.500 homicídios foram registrados apenas nos dois primeiros meses deste ano. A violência invadiu até os estúdios de TV, com jornalistas sendo ameaçados ao vivo por criminosos armados.
Enquanto isso, o país vive uma crise econômica aguda. O desemprego e o subemprego atingem quase um quarto da população. A produção de petróleo, principal fonte de receita, está em queda. A dívida pública ultrapassa 57% do PIB, e a pobreza chega a 28%. González defendia um Estado mais forte e maior investimento social. Noboa sustenta um modelo de mercado liberal, com austeridade e foco na repressão ao crime.
Eleito sob a bandeira da ordem e da força, Daniel Noboa representa, para muitos, uma aposta na continuidade de um governo que prioriza a segurança como prioridade absoluta. Mas é também símbolo da juventude no poder — um dos presidentes mais jovens do mundo, usando redes sociais e colete à prova de balas como marcas de campanha.
Do outro lado, González se apresentava como a herdeira popular do correísmo, prometendo segurança com respeito aos direitos humanos e um modelo mais protetivo para os mais pobres. Sua derrota pode significar um golpe duro à permanência do correísmo como força dominante no país.
O Equador seguirá dividido — entre dois modelos, dois discursos, duas formas de encarar o Estado. Mas, acima de tudo, seguirá ameaçado por uma violência que nem retórica nem tanques conseguiram conter até agora. A vitória de Noboa é um sinal claro de que o país escolheu, ao menos por ora, o caminho da força. O futuro dirá a que custo.