Foto: Divulgação

Em São José dos Campos, Aeronáutica recusou tentativa de golpe de Bolsonaro, aponta PF

Uma investigação da Polícia Federal revelou detalhes sobre reuniões realizadas em dezembro de 2022, nas quais o então presidente Jair Bolsonaro (PL) tentou articular um golpe de Estado para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Dois dos três comandantes das Forças Armadas presentes nos encontros se opuseram veementemente ao plano. Entre eles estava o tenente-brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior, ex-comandante da Aeronáutica, que, em solo joseense, deixou claro que a Força Aérea Brasileira (FAB) não compactuaria com qualquer movimento de ruptura democrática, como noticiado por “OVALE”.

Segundo depoimentos obtidos pela PF e divulgados pelo jornal, Baptista Júnior comunicou essa posição diretamente a Augusto Heleno, então ministro do Gabinete de Segurança Institucional, durante uma cerimônia no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), em São José dos Campos. O encontro ocorreu em 16 de dezembro de 2022, enquanto bolsonaristas mantinham um acampamento em frente ao DCTA (Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial), protestando contra a vitória de Lula nas eleições. Baptista relatou que Heleno ficou “atônito” diante da firmeza de sua declaração, mas evitou confrontar a posição do comandante.

Dois dias antes, em 14 de dezembro, uma reunião no Ministério da Defesa apresentou aos chefes militares uma minuta golpista que previa impedir a posse do novo presidente, instaurar um estado de defesa e criar uma Comissão de Regularidade Eleitoral para reverter os resultados das urnas. De acordo com “OVALE”, Baptista Júnior abandonou a reunião após rejeitar o plano, enquanto o general Marco Antônio Freire Gomes, do Exército, também manifestou resistência. Em contrapartida, o almirante Almir Garnier Santos, da Marinha, não se opôs e foi indiciado pela PF.

A operação da PF resultou no indiciamento de 37 pessoas, incluindo Bolsonaro, Garnier, Valdemar Costa Neto, Anderson Torres e Braga Netto. Eles são acusados de crimes como tentativa de golpe de Estado, organização criminosa e abolição violenta do Estado Democrático de Direito. O relatório foi enviado ao Supremo Tribunal Federal, mas permanece sob sigilo. A investigação também revelou que Baptista Júnior e Freire Gomes foram alvo de ataques coordenados nas redes sociais por suas posições contrárias ao golpe.

Baptista Júnior desabafou nas redes sociais sobre a traição que sentiu de pessoas próximas durante o período: “A ambição derrota o caráter dos fracos. Já tendo passado dos 60 anos, não tenho mais o direito de me iludir com o ser humano, nem mesmo aqueles que julgava amigos e foram derrotados por suas ambições.” Apesar disso, sua postura firme foi fundamental para barrar uma escalada autoritária que ameaçava a democracia brasileira.

Fontes: OVALE, Polícia Federal.

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