Felicio: a força de quem não disputa o holofote

Felício Ramuth atravessou o governo Tarcísio de Freitas com a elegância de quem compreende o valor do silêncio estratégico. Não se mexeu quando tantos tentaram ocupar espaços antes da hora. Preferiu a discrição ao ruído, o trabalho de bastidor à vitrine fácil, aceitou, por exemplo, as missões de presidir a comissão de desestatização do estado e estar a frente da ousada e necessária extinção da “Cracolândia” na capital paulista. Esse gesto, ou a ausência dele, acabou dizendo mais do que qualquer movimentação ensaiada.

A lealdade dele não surgiu como performance. Foi escolha consciente: sustentar o governo, apoiar as entregas, respeitar o protagonismo de Tarcísio e, sobretudo, evitar qualquer sombra que pudesse sugerir disputa. Enquanto outros ensaiavam frases de efeito ou movimentos calculados, Felício seguiu firme no território da sobriedade.

Essa postura criou um fenômeno curioso: ao não correr atrás do holofote, tornou-se ainda mais visível. A política costuma premiar quem resiste ao impulso da antecipação. Felício fez isso com naturalidade. E agora seu nome surge na sucessão não pelo alarde, mas pela coerência. Como o próprio Ricardo Nunes (MDB), prefeito de São Paulo, sugeriu ontem.

Ficou claro para quem acompanha o tabuleiro que a ausência de gestos bruscos não significou imobilidade. Significou maturidade. Ele se manteve onde sempre esteve: próximo ao governador, presente nas entregas, discreto nas aparições, artífice absoluto nas negociações internacionais, articulado com prefeitos, respeitado pelas bancadas, e sem qualquer sinal de oportunismo.

Tarcísio precisa de um sucessor que represente continuidade com estabilidade. Alguém que preserve a marca de gestão, mantenha a confiança do mercado e não gere conflitos políticos. Felício se encaixa nesse desenho justamente porque recusou a tentação do protagonismo precoce.

Sem se mexer, moveu o tabuleiro. Sem disputar luz, conquistou clareza de propósitos. Sem buscar palco, mesmo sendo um exímio dançarino (o que vale um outro artigo) garantiu posição. É nesse tipo de disciplina que se reconhece quem está pronto para assumir não por vaidade, mas por mérito.

Fabrício Correia é escritor, jornalista, historiador e professor universitário. É colunista da Jovem Pan SJC e CEO da agência de notícias; Conversa de Bastidores. Integra a União Brasileira de Escritores.

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