A cena política francesa vive um novo abalo: o governo de François Bayrou não resistiu ao voto de confiança e foi derrubado nesta segunda-feira (8) pela Assembleia Nacional. O resultado encerra um mandato de apenas nove meses, marcado por dificuldades de articulação e pela tentativa frustrada de emplacar um plano de austeridade para 2026.
A moção foi aprovada por ampla margem — 364 deputados votaram pela destituição, enquanto 194 se manifestaram a favor da permanência. O revés uniu extremos: parlamentares da esquerda radical, da esquerda moderada e da ultradireita rejeitaram a proposta, ao passo que centro e direita sustentaram o governo.
Bayrou, de 74 anos, havia assumido após a queda relâmpago de Michel Barnier, que ficou somente três meses no cargo. Sua coalizão, com pouco mais de um terço da Câmara, não resistiu à pressão. Ao anunciar a votação de confiança, já descrita por analistas como um gesto de alto risco, o próprio premiê reconheceu que a França atravessa um momento crítico, comparando o país a um barco em vias de naufragar e a um paciente que sangra sem socorro.
O presidente Emmanuel Macron afirmou, logo após a derrota do governo, que anunciará nos próximos dias o nome do novo primeiro-ministro. Entre as possibilidades estão dissolver a Assembleia Nacional e convocar eleições legislativas, ou ainda a opção mais drástica de antecipar a sucessão presidencial de 2027 — embora Macron esteja impedido constitucionalmente de buscar um terceiro mandato.
No campo oposicionista, Marine Le Pen, líder do Reunião Nacional, pressionou por eleições imediatas, acusando Bayrou de comandar um “governo fantasma”. Ela aposta que a crise abre caminho para uma “grande mudança” de poder. Pesquisas do jornal La Tribune du Dimanche indicam que a população se encontra dividida: 46% apoiam as mobilizações previstas para quarta-feira (10), 28% rejeitam e 26% preferem não se posicionar.
Enquanto isso, especulações giram em torno dos possíveis sucessores. Nomes como Éric Lombard (Economia), Gérald Darmanin (Justiça), Catherine Vautrin (Trabalho e Saúde) e Sébastien Lecornu (Exércitos) são apontados, mas todos enfrentam o mesmo dilema: a ausência de maioria sólida. Outra hipótese seria buscar apoio no campo socialista, com Olivier Faure, líder do PS, que acena com medidas de redistribuição tributária — ideia rechaçada por Bayrou como “pensamento mágico” e já descartada por parte da direita.
No pano de fundo da crise está o fortalecimento do Reunião Nacional, que lidera as sondagens tanto para legislativas quanto para a sucessão presidencial. O partido, no entanto, enfrenta sua própria tensão: Le Pen responde a um processo por uso indevido de recursos do Parlamento Europeu, com julgamento marcado para janeiro. Se for declarada inelegível, quem deve assumir o protagonismo é Jordan Bardella, presidente da legenda, prestes a completar 30 anos.