A Justiça determinou o bloqueio dos bens do ex-prefeito de Taubaté, José Saud (PP), e da ADPM (Associação Desportiva da Polícia Militar), após denúncia do Ministério Público que aponta suspeitas de irregularidades na compra de dois imóveis realizada pela Prefeitura no fim de 2021. O valor congelado, R$ 31,2 milhões, corresponde exatamente ao montante pago pela administração municipal à entidade durante o primeiro ano do governo Saud. A decisão liminar foi proferida pela juíza Rita de Cassia Spasini de Souza Lemos, que considerou a existência de indícios relevantes de dano ao erário, o risco de prejuízo irreparável e a necessidade de garantir eventual ressarcimento ao município. O processo será analisado na Vara da Fazenda Pública, em segredo de justiça. A informação sobre o bloqueio foi confirmada pelo próprio Ministério Público. O ex-prefeito foi procurado pela reportagem, mas não se manifestou. Nenhum representante da ADPM foi localizado; a entidade já havia tentado barrar a investigação no Conselho Superior do Ministério Público, sem sucesso.
De acordo com a Promotoria, a Prefeitura pagou muito acima do valor de mercado pelos terrenos adquiridos no bairro Piracangaguá, uma área de 138 mil metros quadrados onde funcionava a antiga sede da associação. Um laudo técnico do Caex (Centro de Apoio à Execução do Ministério Público) estimou que os imóveis, negociados por R$ 13,84 milhões e R$ 17,36 milhões, valiam R$ 8,44 milhões e R$ 8,97 milhões, respectivamente — diferença que totalizaria R$ 13,796 milhões em sobrepreço. O laudo utilizado pela Prefeitura para justificar a compra foi elaborado por um engenheiro comissionado, quando a legislação exige que avaliações desse tipo sejam feitas por servidores de carreira. Segundo o MP, o profissional não tinha capacitação adequada e incluiu no cálculo valores indenizatórios referentes a estruturas deterioradas, como piscina, tobogã e cantina, sem valor comercial à época.
O Ministério Público também contesta a justificativa apresentada pelo governo Saud para utilizar verbas da educação na aquisição das áreas. A Prefeitura sustentou que as escolas da região enfrentavam superlotação, mas dados oficiais anexados à ação mostram que, entre 2021 e 2025, houve queda no número de alunos tanto nos bairros citados quanto na rede municipal como um todo. Apesar de anunciar que instalaria no local uma unidade do Sedes (Sistema Educacional de Desenvolvimento Social), o ex-prefeito não executou o projeto durante seu mandato. Mesmo assim, a administração investiu outros R$ 5,93 milhões em obras e intervenções no espaço, elevando o gasto total para R$ 37,2 milhões.
Com a troca de governo, a atual gestão decidiu dar outro destino à área. Em 2025, o prefeito Sérgio Victor (Novo) assinou contrato para construção de uma creche com capacidade para 376 crianças, obra estimada em R$ 4,45 milhões e financiada com recursos federais do PAC. Enquanto o novo equipamento começa a sair do papel, o processo de improbidade administrativa segue tramitando. Caso as suspeitas sejam confirmadas ao final da ação, Saud e a ADPM poderão ser obrigados a ressarcir integralmente o valor pago pela Prefeitura na desapropriação.



