No universo da intelectualidade brasileira, Maria da Conceição Tavares ocupa uma constelação própria. À medida que celebra seus 94 anos, não são apenas as décadas vividas que reverberam em sua homenagem, mas a vitalidade indomável de seu espírito e a lucidez de seu pensamento crítico. Como uma figura que atravessou tantas eras, transformando adversidades em aulas de resistência e sabedoria, Conceição nos ensina que o fôlego da juventude pode ser uma questão de ideias, não de anos.

A era digital, tão distante dos tempos de sua formação, paradoxalmente, tornou-se o palco onde suas lições ganham nova audiência. Através de vídeos que circulam virais pelas redes sociais, a professora emérita da Unicamp continua a educar, debater e provocar. Em cada “frame” reciclado de suas antigas palestras, descobrimos não uma acadêmica presa em teorias desgastadas pelo tempo, mas uma pensadora cuja análise do capitalismo brasileiro permanece assustadoramente pertinente.

Navegando pelo Instagram, em um dos perfis dedicado a ela, vi que era seu aniversario e na mesmos hora comecei a refletir sobre a trajetória de Conceição e a intersecção de sua vida com momentos cruciais da história nacional. Desde o idealismo do desenvolvimento de JK ao tumulto das reformas econômicas pós-ditadura, sua voz nunca vacilou. Foi na cátedra, nas assembleias de protesto ou nos corredores do poder que ela se fez ouvir, sempre com a mesma ferocidade analítica.

Os vídeos que a eternizam online fazem mais do que perpetuar sua memória; garantem que as novas gerações tenham acesso a um pensamento econômico que desafia, questiona e inspira. Ao assistir Conceição em ação, seja desmontando a doutrina neoliberal ou articulando a necessidade de políticas públicas audaciosas, sentimos a força de suas convicções, a paixão pelo Brasil e seu povo.

Em uma época onde a informação é tão perecível quanto a próxima atualização de status, Conceição Tavares nos lembra do poder duradouro das ideias bem forjadas. Que o brilho de sua mente continue a iluminar caminhos, não apenas para entendermos onde já estivemos, mas para inspirar rumos mais justos e equitativos. Ao celebrarmos seus 94 anos, celebramos também a chama persistente de uma erudita que nunca deixou de acreditar na capacidade de transformação do pensamento humano.

A verdade de Conceição Tavares não reside apenas em sua crítica aguda ao sistema ou em sua capacidade de antever tendências econômicas desastrosas; está também em seu caráter inquebrantável. Em um mundo muitas vezes disposto a comprometer ideais por conveniência, permanece firme, uma coluna de integridade inabalável. Não é de admirar que suas palavras continuem a reverberar, encontrando eco em um público que nunca a viu falar ao vivo, mas que reconhece, em seus ensinamentos, a chama de uma verdade imortal, a essência de um Brasil mais justo e equitativo que ainda aspiramos construir.

Fabrício Correia é professor universitário e escritor.