O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta sexta-feira (10.02), em Washington, após reunir-se com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, no Salão Oval da Casa Branca, que os norte-americanos devem integrar o Fundo Amazônia.
“Eu discuti a necessidade de os países ricos assumirem a responsabilidade de financiar os países que têm florestas. E só na América do Sul, além do Brasil, temos Equador, Colômbia, Peru, Venezuela, as Guianas, ou seja, vários países que temos que cuidar. O que posso dizer é que ele (Joe Biden) vai participar do Fundo Amazônico.”, afirmou o presidente Lula.
O presidente brasileiro defendeu, no encontro com Biden, a possibilidade de que haja uma governança global da questão climática que inclua mais países com potencial de decisão, inclusive na Organização das Nações Unidas (ONU). Assim, avalia, as mudanças mais estratégicas terão maior chance de serem implementadas.
“A gente tem que ter uma governança global com mais autoridade, que outros países possam participar do Conselho de Segurança (da ONU) para que algumas decisões de ordem climática sejam tomadas em nível internacional. Eu senti muita disposição do presidente americano de contribuir para isso”, afirmou Lula.
No momento aberto à imprensa do encontro entre Biden e Lula, o presidente brasileiro agradeceu o reconhecimento imediato do líder americano assim que a vitória do brasileiro nas urnas foi confirmada, e pela postura de defesa da democracia de Biden quando o Brasil sofreu o ataque golpista de 8 de janeiro.
Biden, por sua vez, ressaltou os laços e valores comuns às duas nações, o respeito à democracia e a abordagem similar na questão climática. “Nossos valores compartilhados e os fortes laços entre nossos povos sintonizam Brasil e EUA, especialmente nos grandes desafios globais, especialmente em relação à mudança climática”, disse o presidente norte-americano.
Paz
Na conversa com jornalistas, Lula afirmou ainda que defendeu no diálogo com o presidente norte-americano a necessidade de uma ação conjunta para que Rússia e Ucrânia possam chegar a um acordo de paz que encerre a guerra entre os dois países.
“Eu falei com o presidente Biden o que já tinha falado ao presidente Macron (da França), o que já tinha falado ao chanceler alemão, Olaf Scholz, sobre a necessidade de se criar um grupo de países que não estão envolvidos diretamente ou indiretamente na guerra da Rússia contra a Ucrânia para que a gente encontre possibilidade de fazer a paz. E eu senti da parte do presidente Biden a mesma preocupação”, revelou.
Agenda longa
Lula desembarcou em Washington no fim da tarde desta quinta-feira (09.02), acompanhado da esposa, Janja Lula da Silva, do ministro das Relações Exteriores, Embaixador Mauro Vieira; do ministro da Fazenda, Fernando Haddad; da ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva; da ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco; do secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Márcio Elias Rosa; do Líder do Governo no Senado, Senador Jaques Wagner; e do assessor-chefe da Assessoria Especial da Presidência da República, Embaixador Celso Amorim.
Antes de se reunir com o presidente Joe Biden, Lula cumpriu, com os demais ministros, uma longa agenda na capital norte-americana, que contou com encontros com o senador Bernie Sanders, com deputados e deputadas do Partido Democrata e com representantes da Federação Americana de Trabalho e Congresso de Organizações Industriais (AFL-CIO).
“Todo mundo sabe da importância de uma boa relação entre Brasil e Estados Unidos. Seja do ponto de vista econômico, comercial, do ponto de vista político, do ponto de vista cultural. É muito importante que estejamos juntos. O Brasil volta ao cenário mundial utilizando a sua potência política, a respeitabilidade que conquistou, para que a gente possa, junto com outros países, cumprir a tarefa que nós temos que cumprir com a humanidade”, frisou o presidente Lula.
Museu
A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, e Janja Lula da Silva, estiveram nesta sexta-feira no National Museum of African American History and Culture. O objetivo foi conhecer o local e seus equipamentos para que seja possível criar museus semelhantes no Brasil.
“Foi emocionante ver a história registrada de maneira tão profunda. O museu não é apenas sobre a história da escravização, mas sobre a história de resistência, luta e cultura negra. Ficou ainda mais evidente o papel do Brasil na história da população negra africana no continente e em todo o mundo. Isso mostra a importância de termos áreas tombadas e o museu no Cais do Valongo”, disse a ministra, se referindo ao museu que deve ser criado no Rio de Janeiro, no cais por onde passaram mais de um milhão de escravizados com destino ao Brasil e outros países das Américas.
Após a reunião com o Senador Bernie Sanders, a ministra Marina Silva conversou com jornalistas. Assim como o presidente Lula, mostrou-se confiante de que os Estados Unidos irão participar ativamente de soluções para a questão ambiental. “Foi altamente positiva essa reunião e com sinalizações concretas de uma força-tarefa para captação de recursos para o Fundo Amazônia e outros mecanismos que possam ser criados para facilitar o acesso direto das comunidades em situação de vulnerabilidade. Inclusive, criando uma face da filantropia brasileira que também já está se mobilizando”, afirmou Marina Silva.