Durante conferência da ONU em Roma, pontífice norte-americano alerta para os impactos da violência armada sobre a segurança alimentar global e condena a indiferença diante do sofrimento civil
Em um pronunciamento enfático durante a 44ª Conferência da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), realizada nesta segunda-feira (30) em Roma, o papa Leão XIV lançou duras críticas ao uso estratégico da fome em cenários de guerra e instabilidade política. O pontífice chamou atenção para a crescente manipulação da insegurança alimentar como ferramenta de dominação e afirmou que a miséria tem sido utilizada de forma deliberada como instrumento de conflito.
Segundo o líder da Igreja Católica, as guerras contemporâneas frequentemente deixam de ser travadas por exércitos organizados, sendo substituídas por ações de milícias e grupos armados que utilizam táticas como a destruição de plantações, o bloqueio da ajuda humanitária e o impedimento da produção rural. “Estamos vendo populações inteiras sitiadas pela fome, não como efeito colateral, mas como tática calculada de guerra”, alertou.
Crises políticas e colapso alimentar
Leão XIV destacou que a combinação entre instabilidade política, conflitos armados e crises econômicas agrava a dificuldade de acesso à alimentação básica, atingindo principalmente comunidades já vulneráveis. Para o pontífice, a violência afeta não apenas os sistemas de produção agrícola, mas corrói as estruturas sociais, aprofundando a desigualdade e impedindo o desenvolvimento de sociedades justas.
Ao citar a disparada dos preços e a destruição de mercados locais em regiões em conflito, o papa também denunciou a lógica econômica que enriquece lideranças corruptas às custas do sofrimento dos civis. “É inaceitável que, enquanto famílias passam fome, interesses políticos se beneficiem do caos”, declarou.
Apelo à solidariedade global
Embora não tenha citado nominalmente nenhum país ou conflito específico, o papa fez referência clara à atuação internacional e cobrou maior cooperação entre as nações para frear a indiferença e promover soluções duradouras para a fome no mundo. Segundo ele, a ausência de paz compromete qualquer esforço para garantir segurança alimentar, justiça social e vida digna.
O pontífice reafirmou o compromisso da Igreja com iniciativas de combate à fome e defendeu que todas as pessoas, independentemente de onde vivam, têm direito não apenas ao alimento, mas também à dignidade, ao desenvolvimento e à esperança.
Uma ferida aberta no mundo
Leão XIV encerrou sua mensagem com um alerta simbólico: curar a fome não é apenas suprir uma necessidade física, mas tratar as fraturas morais causadas por anos de egoísmo, negligência e violência institucionalizada. “Ignorar esse sofrimento é perpetuar um erro histórico com consequências irreparáveis”, concluiu.