Foto: Internet

Parlamento francês derruba Michel Barnier em aliança histórica entre esquerda e extrema direita

Em um movimento sem precedentes, o parlamento da França destituiu nesta quarta-feira (4) o primeiro-ministro Michel Barnier, encerrando o governo mais breve da história da Quinta República. A moção de censura, aprovada por 331 votos, uniu pela primeira vez os blocos de esquerda e extrema direita contra o premiê, indicado pelo presidente Emmanuel Macron há apenas três meses.

Barnier, veterano da política e ex-negociador do Brexit, foi nomeado por Macron em uma tentativa de estabilizar o parlamento fragmentado, composto por três blocos rivais: esquerda, centro-direita e extrema direita. A indicação, no entanto, gerou descontentamento generalizado por ter sido feita sem consulta ampla e sem respaldo eleitoral. A rejeição ao orçamento apresentado por Barnier foi o estopim para a moção de censura. O plano previa cortes nos gastos públicos e aumento de impostos temporários para grandes empresas, medidas que enfrentaram críticas tanto da esquerda quanto da extrema direita. A dívida pública, atualmente em 112% do PIB, e o déficit de 6,1% foram temas centrais nas discussões.

Esta é a primeira vez em mais de 60 anos que um chefe de governo francês é destituído por uma moção de censura. O último caso aconteceu em 1962, com Georges Pompidou, durante o governo de Charles de Gaulle. A queda de Barnier expõe a fragilidade do governo Macron, que já enfrentava dificuldades desde que perdeu a maioria absoluta na assembleia nacional após as eleições legislativas de 2022.

A crise foi intensificada pelas eleições parlamentares de junho, quando a Nova Frente Popular (NFP), coalizão de esquerda composta por socialistas, comunistas, ambientalistas e representantes da esquerda radical, venceu as eleições, mas não conseguiu maioria suficiente para governar. Macron rejeitou a aliança com a esquerda e indicou Barnier, um nome de centro-direita, o que gerou insatisfação nos outros blocos. Marine Le Pen, líder do partido de extrema direita Reunião Nacional, viu na destituição de Barnier uma oportunidade de enfraquecer ainda mais o governo de Macron e criticou duramente o orçamento apresentado.

Agora, Macron enfrenta o desafio de decidir entre negociar com os partidos majoritários no parlamento ou arriscar indicar outro primeiro-ministro, decisão que pode agravar ainda mais o desgaste de seu governo. Fontes próximas ao governo indicam que um novo nome pode ser anunciado já nos próximos dias. O cenário de instabilidade política e econômica na França ocorre em meio a tensões globais, como a crise de governo na Alemanha e o retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, criando desafios ainda maiores para a União Europeia.

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