Foto: Reprodução

Repensar a FCCR é fortalecer São José

A Fundação Cultural Cassiano Ricardo é uma das instituições mais importantes de São José dos Campos. Atravessou décadas formando artistas, preservando tradições e abrindo espaços de criação em uma cidade que se tornou referência nacional em tecnologia e inovação. Hoje, diante do parecer do Tribunal de Contas do Estado, reprovando suas contas, em parte pelo volume de horas extras, é necessário colocar as coisas em perspectiva.

As horas adicionais não surgiram por descuido ou para benefício. São resultado de um corpo funcional pequeno diante de uma missão gigantesca. Manter centros culturais abertos, programações de fim de semana, oficinas, festivais, espetáculos e ações em bairros diversos demanda presença constante. Quando o quadro é reduzido, a sobrecarga se torna inevitável.

Isso não significa que a gestão deva permanecer como está. Ao contrário: chegou a hora de corrigir a estrutura. A FCCR precisa de um concurso público que amplie e estabilize a equipe, de ferramentas modernas de gestão que tragam eficiência e transparência, e de indicadores claros para medir o impacto social e cultural de suas atividades. Esse é o caminho para transformar fragilidades em fortalecimento institucional.

O TCE cumpre sua função ao cobrar ajustes, mas também tem espaço para reconhecer compromissos de melhoria. Revisar o parecer à luz de um plano sólido de reestruturação não afronta a lei; fortalece a política pública. A cultura, afinal, não cabe em expedientes rígidos. Ela acontece em horários diversos, exige flexibilidade e responde à demanda da comunidade.

Se a cidade cresce em população, economia e infraestrutura, é natural que sua fundação cultural também precise crescer. O risco não está nas horas extras, mas em perder o propósito que sempre guiou a FCCR: ser guardiã da memória, ponte entre gerações, palco para artistas locais e porta de entrada para milhares de jovens.

Repensar a fundação, no momento em que celebramos suas quatro décadas, é prepará-la para o futuro. São José dos Campos não pode abrir mão de uma FCCR forte, transparente, eficiente e fiel à sua missão. Porque uma cidade se mede não apenas pelo que produz, mas pelo que é capaz de inspirar.

Fabrício Correia é escritor, jornalista, produtor cultural e professor universitário. Membro da União Brasileira de Escritores e da Academia Brasileira de Cinema. Presidiu a Academia Joseense de Letras e foi Diretor Cultural Interino e Assessor de Gestão e Estratégia da Fundação Cultural Cassiano Ricardo, durante o mandato de Emanuel Fernandes, entre 1997-2000.

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