A já tumultuada relação entre o bilionário Elon Musk e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, atingiu um novo ápice nesta quinta-feira (6), quando Musk, por meio de sua plataforma X, acusou Trump de ser um dos nomes presentes nos documentos ainda sigilosos do caso Jeffrey Epstein. Segundo o empresário, essa seria a razão pela qual parte dos arquivos permanece sob proteção judicial — uma afirmação feita sem apresentação de provas.
“@realDonaldTrump está nos arquivos de Epstein. Esse é o verdadeiro motivo de eles não terem sido divulgados”, escreveu Musk, inflamando um conflito que já vinha se intensificando desde sua saída do governo em maio.
Da aliança à animosidade pública
Elon Musk foi um dos principais fiadores políticos da campanha de Trump em 2024, tendo inclusive assumido, a convite do presidente, a Secretaria de Eficiência Governamental (DOGE), uma estrutura criada sob medida para encampar as promessas tecnocráticas do novo mandato republicano. No entanto, divergências em relação à política fiscal do governo e os cortes de incentivos à indústria de veículos elétricos levaram ao rompimento.
Após sua saída, Musk tornou-se um crítico voraz do pacote econômico “One Big Beautiful Bill”, que chamou de “aberração nojenta” por expandir a dívida pública e reduzir subsídios justamente à indústria que o projetou como símbolo de inovação.
Trump, por sua vez, não respondeu diretamente à acusação de envolvimento no caso Epstein, mas voltou a atacar Musk em tom sarcástico. Durante um encontro com o chanceler alemão Friedrich Merz, afirmou: “Elon pirou quando perdeu os subsídios. Pedi que saísse. Cancelei o Mandato EV — que forçava as pessoas a comprarem carros que ninguém queria — e ele simplesmente enlouqueceu!”
O presidente ainda insinuou a possibilidade de romper contratos federais com empresas controladas por Musk, como Tesla e SpaceX, argumentando que isso representaria “bilhões em economia para os cofres públicos”.
O fantasma de Epstein
As denúncias de Musk acenderam um novo foco sobre as conexões históricas entre Trump e Jeffrey Epstein, financista condenado por abuso de menores e encontrado morto em 2019 em uma prisão de Nova York. Imagens de arquivo da NBC mostram Trump e Epstein juntos em festas nos anos 1990, inclusive em Mar-a-Lago.
Em 2002, Trump chegou a declarar à revista New York que Epstein era “um cara incrível” e que “gostava de mulheres bonitas, muitas delas bem jovens”. Documentos judiciais revelam que Trump voou ao menos sete vezes no jato particular de Epstein entre 1993 e 1997. O chamado “Livro Negro” de Epstein, divulgado em 2015 e posteriormente apresentado como prova judicial, traz diversos números de telefone ligados a Trump.
Apesar da liberação parcial dos chamados “arquivos Epstein” em janeiro de 2024 — incluindo registros de voo e listas de contatos —, muitos documentos seguem sob sigilo, o que tem motivado pressão de parlamentares democratas por total transparência.
Impactos políticos e econômicos
A troca pública de acusações entre os dois magnatas já surte efeitos tangíveis. As ações da Tesla caíram 14% desde o início da crise. Musk, em resposta, chegou a defender o impeachment de Trump e sua substituição pelo vice-presidente JD Vance — algo impensável meses atrás.
O Congresso agora enfrenta uma onda de questionamentos sobre os critérios para manter documentos em sigilo judicial, especialmente diante da possibilidade de que nomes de autoridades públicas estejam sendo protegidos. “Se há figuras de Estado entre os envolvidos, a sociedade tem o direito de saber”, declarou a deputada democrata Alexandria Ocasio-Cortez.
O confronto entre Musk e Trump não é apenas um embate de egos. É um espelho das fraturas internas de um país onde tecnologia, poder, escândalos e política se entrelaçam num tabuleiro cada vez mais instável.
Com informações da Al Jazeera, NBC News e agências internacionais.