Em um movimento que reacende disputas comerciais e escancara o uso político das tarifas internacionais, o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a aplicação de uma alíquota de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados para o território americano. A medida, que entra em vigor no dia 1º de agosto, foi oficializada por meio de uma carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e amplamente divulgada nas redes sociais de Trump.
O gesto marca uma escalada sem precedentes na relação entre os dois países desde a redemocratização brasileira. Em tom agressivo, Trump justificou a sanção como uma resposta àquilo que classificou como “ataques insidiosos do Brasil às eleições livres e à liberdade de expressão”, em referência às decisões do Supremo Tribunal Federal que atingiram redes sociais americanas e ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro.
“O Brasil, por exemplo, não tem sido bom para nós, nada bom”, disse Trump, em declaração pública que acompanhou a divulgação da carta. Segundo ele, o Brasil impõe barreiras comerciais injustas, especialmente no setor de etanol e de produtos industrializados, além de adotar posturas “hostis” no campo digital.
A retaliação tarifária inclui um alerta explícito: produtos brasileiros que tentarem acessar o mercado americano por meio de países intermediários também sofrerão sanções “ainda maiores”. A carta menciona nominalmente Jamieson Greer, representante comercial dos EUA, como responsável pela abertura de uma investigação formal contra o Brasil sob os termos da Seção 301 da legislação americana — mesma ferramenta utilizada por Trump na guerra comercial contra a China.
O governo brasileiro, por sua vez, tenta conter os danos. Segundo apuração do portal UOL, diplomatas das duas nações já haviam iniciado conversas há duas semanas, por videoconferência, na tentativa de negociar uma redução mútua de tarifas. O Brasil, inclusive, chegou a admitir o corte de 18% no imposto cobrado sobre o etanol americano. A proposta, porém, não recebeu resposta da Casa Branca.
A imposição das tarifas ocorre em meio ao enfraquecimento da Organização Mundial do Comércio (OMC), o que dificulta a contestação legal da medida por parte do Brasil. Pela normativa internacional, o uso de tarifas com motivação política é proibido, mas a paralisia do órgão de apelação da OMC, provocado pela própria política americana nos últimos anos, reduz as chances de reversão imediata.
A nova tarifa também insere o Brasil no centro da disputa eleitoral americana. O anúncio foi feito no mesmo dia em que Trump participou de um evento com líderes africanos, no qual criticou o governo Lula e elogiou a gestão de Bolsonaro. A medida, segundo analistas, reforça a estratégia de Trump de alinhar seu discurso internacional ao combate ao “globalismo” e à defesa de aliados políticos — mesmo que à custa de acordos comerciais históricos.
Nos bastidores do Itamaraty, a avaliação é de que o gesto de Trump não é apenas um ataque econômico, mas também um gesto político com repercussões eleitorais internas e externas. A diplomacia brasileira trabalha agora com três frentes: a contenção da crise com os EUA, a tentativa de articulação internacional para denunciar a medida e a busca por novos mercados que possam absorver parte dos produtos afetados.
Com a tarifa de 50% em vigor, o impacto sobre exportações brasileiras deve ser imediato, especialmente nos setores de aço, agronegócio, alimentos processados e bens manufaturados. A medida pode comprometer parte do superávit comercial registrado nos últimos anos entre os dois países, que hoje favorece os americanos, segundo dados oficiais.
Em nota, o Palácio do Planalto afirmou que o Brasil “repudia toda forma de retaliação comercial de cunho político” e que adotará “todas as medidas cabíveis” para proteger os interesses nacionais. Até o momento, não há previsão de uma retaliação brasileira.
A crise, ao que tudo indica, está apenas começando.